sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Soneto


Fecham-se os dedos donde corre a esperança,

Toldam-se os olhos donde corre a vida.

Porquê esperar, porquê, se não se alcança

Mais do que a angústia que nos é devida?


Antes aproveitar a nossa herança

De intenções e palavras proibidas.

Antes rirmos do anjo, cuja lança

Nos expulsa da terra prometida.


Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,

Antes o olhar que peca, a mão que rouba,

O gesto que estrangula, a voz que grita.


Antes viver do que morrer no pasmo

Do nada que nos surge e nos devora,

Do monstro que inventámos e nos fita.


José Carlos Ary dos Santos

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